Este artigo tem por objetivo relatar um pouco sobre o estágio junto a EJA, de maneira breve, falarei sobre os planejamentos, objetivo dos mesmos, como conseguimos atingir os alunos, fazendo-os se sentirem parte principal do foco do ensino aprendizagem, e os sentimentos experimentados nesta “aventura”, que me proporcionou tanta alegria e aprendizado.

  

           

         

                                      Aprendendo a aprender.

                       

                                  

  

           

  

            Trabalhar com a EJA foi uma experiência nova para mim, trabalhar com adulto requer mais tato, mais dinamismo, mais estratégias para a aprendizagem dos mesmos. Enquanto que, com as crianças você pode criar magia com a realidade para trabalhar os assuntos, com os adultos essa magia não funciona, a maioria tem histórias de lutas desde a infância, já perderam lá a inocência que permeia o infantil. Mas foi muito enriquecedor poder fazê-lo em dupla, pois uma completava a outra, eu e a minha colega Janaína temos princípios parecidos, formas de olhar o mundo e trabalhar em sala de aula também, a diferença é que eu ainda gosto do “enfeitar” os trabalhos, planos, etc, enquanto que ela é mais direta neste ponto, então fazer o estágio foi uma experiência ótima, pois cada uma cuidava para a outra. Sem saber íamos trabalhar o mesmo projeto: o Pinhão, tínhamos elaborados atividades parecidas, pois eram para a mesma “série”, então sentamos e de acordo com a turma selecionamos as atividades pertinentes para a mesma.

            Nas observações realizadas junta a turma (nota-se que eu e minha colega fizemos as mesmas em separado), não notamos demandas específicas, a turma é homogênea, apesar das diferenças de ritmos e aprendizado, se encontravam praticamente todos no mesmo patamar de ensino. Tínhamos uma aluna que sabia escrever e falar muito bem, mas dizia não saber escrever, adorava receitas culinárias, tínhamos outros tão tímidos, que só ouvimos suas vozes na última semana de estágio, tínhamos alunos que não aceitavam os seus erros, tínhamos alunos lentos e outros mais rápidos, mas como um ajudava ao outro, não tínhamos uma dificuldade específica maior para resolver. Segundo a Proposta Curricular em Educação Para Jovens e Adultos do Ministério da Educação:

 "quem trabalha neste segmento deve conhecer os alunos "suas expectativas, sua cultura, as características e problemas de seu entorno e suas necessidades de aprendizagem". Respeitar a realidade do estudante é fundamental em todos os níveis de ensino, mas ganha uma importância ainda maior quando eles já são experientes. É preciso levar em conta a bagagem da turma. O papel do educador na EJA é, principalmente, o de ajudar o adulto a perceber mais sensivelmente o mundo que o cerca e ampliar o repertório dos alunos para que consigam solucionar questões do cotidiano com mais propriedade."(Sandra Medrano, Revista Escola 22.06.2014)

            Conhecemos os alunos nos longos diálogos antes de começar a aula, na hora da merenda e do recreio, nos intervalos entre uma atividade e outra. Também nos utilizávamos das observações quanto à participação nas atividades, o interesse em contribuir com seus saberes, com o respeito pela bagagem que cada um possuía. Foi desta forma que criamos um vínculo que nos foi essencial para realização do estágio e troca de conhecimento entre todos.

Os planos de aula foram elaborados para os alunos se identificarem, trabalhamos com o tema do pinhão e usamos o mesmo como material concreto em algumas atividades, muitos alunos tem como atividade extra a colheita do pinhão, o que representa uma renda extra, faz parte da realidade dos mesmos essa semente. Nas atividades escritas no quadro e nas atividades xerocadas colocamos os nomes doa alunos como ser principal, para que os mesmo se sentissem valorizados, pudessem observar que eles são os agentes transformadores do seu ensino-aprendizagem. Os adultos têm mais o sentimento de não poder errar, como se o erro induzisse a “incompetência”, e nós procuramos (eu e a minha colega Janaína), fazer eles compreenderem que escrever "errado" ou não conseguir ler todas as palavras é uma maneira de alcançar o acerto.

           

Como disse anteriormente, não tivemos dificuldades específicas para a realização do estágio, mas procuramos elaborar planos que envolvessem todos nas atividades, por exemplo, usamos a lenda do pinhão para mapear o que os alunos já sabiam sobre a semente, a Araucária, a Gralha Azul, para o ensino não ficar repetitivo e a aproveitamos para usar de exemplo na conceituação dos substantivos, trouxemos ainda as propriedades do pinhão, lendas da nossa cidade, a história da nossa cidade, e com isto obtivemos uma participação extraordinária dos alunos, inclusive o Sr. Dirceu nos deu uma “aula” dos vários tipos de pinhão, como colhê-lo sem prejudicar a árvore e as pinhas que amadurecerão para o ano seguinte. Nos textos compartilhados, ouvimos a opinião de cada um seja na interpretação do mesmo ou sobre a realidade de hoje na nossa cidade. Apresentamos a história dos números, para que eles percebessem que mesmo antes dos códigos que chamamos de números existirem, o homem já utilizava de outros meios para quantificar, trouxemos a história destes códigos (números) onde mostrava o porquê de cada um representar a quantidade indicada. Fizemos arte para relaxar e movimentos o corpo para evidenciar a importância de nos movimentarmos. Trouxemos receitas para ajudar aqueles que compreendiam melhor através delas, desbravamos mapas, assistimos o método japonês de multiplicação. Todos os planos foram elaborados de uma maneira que os alunos se vissem como o foco do ensino, seguindo a premissa de Freire que diz:

"O homem não pode participar ativamente na história, na sociedade, na transformação da realidade, se não é auxiliado a tomar consciência da realidade, a“pronunciar o mundo‟ e a perceber sua própria capacidade para transformá-lo.

Ninguém luta contra as forças que não compreende, e a realidade não pode ser modificada senão quando o homem descobre que é modificável e que ele pode fazê-lo, antes de tudo, provocando uma atitude crítica, de reflexão, que comprometa a ação. “É preciso, portanto, fazer dessa conscientização o primeiro objetivo de toda educação libertadora.” (FREIRE, 1978, p. 40)

Diante disso, podemos dizer que o frio que há na nossa cidade nos atrapalhou um pouco no estágio, pois houve grande evasão dos alunos, devido a mobilidade urbana, como os mesmos não tem condições de pagar por um táxi ou não tem carro, ficava difícil de ir a aula nos dias de frio e chuva intenso. A sensação de chegar à sala de aula e não ver todos era de vazio, impotência por não conseguir ajuda-los de forma efetiva, de não ter meios de conscientizar os responsáveis pelo transporte público no município, de fazê-los olharem para esta realidade e tomar uma iniciativa que beneficie o EJA. Porém, como a turma era muito unida, quem não conseguia ir, os outros levavam as atividades e emprestavam o caderno para eles copiarem, assim quando vinham, corrigíamos nos cadernos e todos conseguiam acompanhar e aprender.

            Quando trabalhamos o texto sobre a fundação da cidade, os colocamos cientes que aquilo foi à história colocada nos livros, que a realidade hoje é outra e juntos discutimos sobre os pontos de vistas de todos sobre a cidade, seus pontos positivos e negativos, o que eles melhorariam e como melhorariam. Foi uma discussão prazerosa de fazer, pois é muito gratificantes ver os alunos participarem, dar sua opinião, respeitarem a opinião dos colegas, mesmo não concordando com ela.  Outro ponto muito instigante do ato de compartilhar com os adultos do EJA, foi eles elaborando frases sobre a nossa Festa do Pinhão e nós aparecendo dias depois com folders da Festa com as frases(fizemos um para cada um) e a programação elaborada por cada um. Apresentamos os folders, eles num primeiro momento não perceberam que eles estavam escritos como organizadores do evento. Só depois que viram suas frases e ficaram emocionados, com olhos brilhando de orgulho pelo feito, ganhamos sorrisos sinceros e a certeza que conseguimos conquistar a confiança de todos.

            Durante as três semanas de estágio, compartilhamos o sentimento de desafio vencido, de sucesso, de confiança, “da insegurança a ser superada pela segurança, do medo que, ao ser “educado”, vai gerando a coragem” (FREIRE, 1996, p. 51), de mostrar a todos que fazemos parte da realidade da nossa cidade, fazer crescer nos alunos a importante função de cidadão, de ser agente no processo de ensino aprendizagem e podermos ser vistas como iguais a eles, com receios e esperanças e de “olhos nos olhos” os verem e ouvirem como eles merecem.

2. CONCLUSÃO

             O estágio na EJA foi uma experiência de grande valia para o meu crescer como pessoa e profissional, mesmo ele não tendo um projeto político pedagógico elaborado e o material para pesquisar sobre o mesmo ainda ser pouco, consegui superar meus próprios medos e desafios. O trabalho em dupla também foi de suma importância, pois éramos duas para discutir, chegar a um consenso e vários para compartilhar e ajudarem a aperfeiçoar os nossos planos. Aprendi a rir muito, a ver com outros olhos o ensino voltado aos adultos,  cheguei a ter medo de conseguir superar esta etapa, pois foi com olhos desconfiados que comecei as observações e foi com sorrisos e abraços que terminei o estágio. Quando me for possível, quero trabalhar com Eja, pois desmitificaram a minha ideia de mundo preto e branco, tornando meus dias coloridos, vendo pelos olhos deles o mesmo sentimento que observamos numa criança ao descobrir as letras, números e poder ajudá-los a desbravar o mundo com o simples lápis correndo no papel ou através das histórias que a leitura possibilita viajar.  Espero tê-los incentivado ao “voo”, em busca de novas formas de aprender.

  

3.REFERÊNCIAS

BRASIL. Governo Federal/MEC (1996). Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

(LDB) nº. 9.394, de 20 de dezembro de 1996.

FREIRE. Paulo. 1987. Pedagogia do Oprimido, Rio de Janeiro, Paz e Terra.

FREIRE. Paulo. 1967. Educação como prática da liberdade, Rio de Janeiro, Paz e Terra.

FREIRE. Paulo. 1992. Pedagogia da esperança, Rio de Janeiro, Paz e Terra.