O
Ensino da Geografia e História no Contexto Escolar
por Vanessa Reinhardt
Para compreendermos as formas atuais
de abordagem das áreas temáticas de história e geografia nas instituições de
ensino, é preciso antes de mais nada, atentarmos para seus princípios
epistemológicos e portanto, para o fato de que o ensino destas sempre esteve
ligado a escolhas políticas, que nortearam o que e quando aprender. Assim
sendo, ao analisarmos a “entrada” destes componentes na educação formal do
país, é possível perceber que esta se deu com o intuito de priorizar um
sentimento de unidade de uma nação, formando indivíduos patriotas, conhecedores
de fatos heroicos e nomes de heróis nacionais e acima de tudo admiradores e não
questionadores do que lhes era apresentado.
Diferentes correntes teóricas e
planos de mudança nas grades/matrizes curriculares se deram ao longo da história
brasileira no intuito de tornar a geografia e a história como algo
significativo e que levava em consideração o aluno como sujeito histórico e
parte integrante do seu meio, espaço e tempo. Como produtor de territórios e
protagonista de sua história. Porém, muito do que vemos ainda em nossas salas
de aula, são um olhar estático sobre estes conteúdos, que são apresentadas de
forma linear e estática, ainda priorizando que os alunos decorem datas, nomes
de capitais e seus estados, tipos de vegetação, feitos históricos longínquos e
inquestionáveis. Aqui, vale revisitar o meu próprio ensino destas disciplinas
em que, por exemplo, aprendíamos sobre a Serra Gaúcha (localidade onde sou
moradora), através dos livros didáticos com livros e gravuras. Ficávamos
passivos diante do livro e do professor que ia acumulando dados sobre a nossa
própria região, sem saídas de campo, sem observação da ação humana sobre nossos
espaços geográficos, sem a noção da importância do pinhão para a nossa economia,
sem as discussões acerca do clima, vegetação para a produção do turismo. Enfim,
sem a ação humana de nossos antepassados e de nós mesmos como autores e
produtores de territórios e de uma história, a nossa história, e, portanto, a
história da Serra Gaúcha.
Para que mudanças reais aconteçam, e
para que possamos alcançar objetivos menos de civismo e mais de cidadania, é
preciso considerarmos o aluno como sujeito de sua própria história, que,
através de suas relações com o outro e com o meio, vai constituindo fatos,
territórios, história e vida. Ou como nos dizem os PCN`s
“O aluno deve ser
capaz de questionar sua realidade, identificando alguns de seus problemas e
refletindo sobre algumas de suas possíveis soluções reconhecendo formas de
atuação política, e organizações coletivas da sociedade civil”. BRASIL. 2007.
Para tanto, acredito ser
imprescindível no ensino fundamental, trabalharmos fora de uma lógica da
história e geografia como algo que não se questiona, como se diferentes pontos
de vistas não pudessem levar-nos a diferentes compreensões, como o conceito de
tempo apenas como algo cronológico e como se o ponto de partida sempre fosse os
fatos nessa linha cronológica. A história e a geografia não são algo distante
da nossa realidade, elas acontecem aqui e agora, simultaneamente, de diferentes
formas, baseada em diferentes modos de vida, culturas e aspectos, e ao aluno
deve ser dado o direito de se reconhecer nesse processo.
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