RESENHA: “A LÍNGUA DE
EULÁLIA”
A língua de Eulália : novela sociolinguística
escrita por Marcos Bagno, 15. ed. —
São
Paulo: Contexto, 2006.
O livro a “A língua de
Eulália” tem como base “desvendar os mistérios”’ da língua portuguesa,
desmitificando o que aprendemos a vida toda: que existe uma língua única em
cada idioma. Abrindo nossos ouvidos para as variedades do português e nos
libertando dos preconceitos enraizados em nós deste que começamos a falar. O livro é dividido em 22
subtítulos, totalizando 241 páginas contando a história e dez páginas de
referências que serviram para a escrita da obra.
O livro “A língua de Eulália” é uma
novela sociolinguística, que de forma natural vai contando como a nossa língua
portuguesa chegou às palavras que falamos hoje. Tem por objetivo desmentir o
fato da língua única e abrir os horizontes para as mais variadas formas do
português, o Português Padrão (PP) que segue a risca todas as formas
gramaticais e o Português não Padrão (PNP), que falado pela maioria, são o
ponto de partida para a história que tem
como personagens principais mulheres: Vera, estudante de letras com 21 anos;
Sílvia, da mesma idade de Vera, estudante de psicologia e Emília, 19 anos,
estudante de pedagogia; Tia Irene, tia da Vera e quem vai ajudar as meninas a
saírem da mesmice e descobrir um mundo novo da nossa língua e Eulália, que num
primeiro momento é tida como caipira, que fala de um jeito engraçado e errado.
A
história se desenrola na cidade de Atibaia, interior de São Paulo, as meninas
vão passar alguns dias de férias na casa da Tia Irene e já no primeiro cometem
a gafe de zombar do modo de falar de Eulália, amiga e confidente da tia Irene e
esta ao perceber aquilo chama a atenção das moças para o fato de que a Eulália
não fala errado e sim diferente. Então a tia Irene, em concordância com as
meninas resolve dar um curso intensivo para expandir os horizontes das mesmas.
Na primeira aula, é feita a seguinte pergunta para todas: - Quantas línguas se
falam no Brasil? Todas pensam bastante e respondem que existe no Brasil uma só
língua: o português. E a partir desta resposta se desenrola as explicações para
a língua que falamos hoje, a Tia Irene diz assim: “que
aquilo que a gente chama, por comodidade, de português não é um bloco compacto,
sólido e firme, mas sim um conjunto de “coisas” aparentadas entre si, mas com
algumas diferenças. Essas “coisas” são chamadas variedades”, ou seja nenhuma
língua é única, há várias variedades que o povo constroem ao longo da vida, que
podemos observar nas comunidades que compõem nosso Brasil e assim aprender que
a língua é como a letra, única para cada pessoa.
Durante os diálogos do livro
aprendemos como foi se formando as palavras, “que a mente voa e a mão se
arrasta”, quais as palavras que trocamos as letras, como por exemplo: playa (
em espanhol) e praia em
português. Que palavras que julgamos estar sendo faladas
erradas, como pranta, ingrês, eram usadas pelos primeiros escritores e deles
ninguém achava engraçado ou caipira. Que se pegarmos cartas, livros dos séculos
passados não entenderemos muita coisa, pois de lá para cá muita coisa mudou, que
a língua está sempre em movimento, que palavras até então erradas, passaram a
fazer parte do vocabulário do PP. Tudo isso é o que tentamos “dar” aos nossos
alunos, como se a forma que eles trazem de casa não presta, é errada e precisa
ser corrigida com afinco para que eles aprendam a falar e escrever de acordo
com as regras gramaticais, assustando e inferiorizando-os como diz nesta frase
do livro: “A prática tradicional de
ensino da língua portuguesa no Brasil deixa transparecer, além da crença no
mito da “unidade da língua portuguesa”, a ideologia da necessidade de “dar” ao
aluno aquilo que ele “não tem”, ou seja, uma “língua”. Essa pedagogia
paternalista e autoritária faz tábua rasa da bagagem linguística da criança, e
trata a como se seu primeiro dia de aula fosse também seu primeiro dia de vida. Trata-se de querer “ensinar” provém do latim
in + signo, isto é, “pôr um sinal em” alguém, e implica uma ação de fora para
dentro, implantar alguma coisa, um “signo” ou um conjunto de “significados”na
mente de alguém) ao invés de “educar”( vem de ex + duco, “trazer para fora,
tirar de, dar à luz”, num movimento que se faz na direção oposta à de
“ensinar”).”
No segmento do
livro aprendemos a observar como a
língua PP é difícil de ser seguida, enquanto que a PNP é natural e
simplificada, que por exemplo para colocarmos um frase no plural na PNP, apenas
marca uma só palavra para indicar um número maior que um, no PP são necessárias
várias marcas para indicar a mesma coisa. Aprendemos que a história : mim não
faz nada, eu fazer tudo, não tem nada a ver com falar de índio e muitas pessoas
importantes e tidas como cultas utilizam o mim para fazer as coisas.
Logo, o livro a “ A língua de
Eulália”vem tem o intuito de explicar que tudo o que é falado diferente possui
explicação lógica, histórica, geográfica, etc., que falar como se escreve não
quer dizer falar mais corretamente e que a forma escrita é apenas a “roupa” da
palavra, escondendo muitas coisas interessantes que ela pode ter por debaixo
que só alguns conseguem ver.
Esta resenha escrita durante o Curso de Pedagogia, eixo de Estudos Colaborativos Orientados I, onde trabalhamos sobre o modo de falar e escrever, sobre a diversidade da nossa língua.
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